É comum notar uma flacidez na região central do abdômen, principalmente ao redor do umbigo, e ao realizar qualquer esforço como levantar da cama, tossir ou fazer um abdominal, surge uma saliência que se projeta para frente.
Um teste simples pode ajudar: deite de barriga para cima, eleve levemente a cabeça e palpe a região ao redor do umbigo. Se houver um afundamento entre os músculos, há grande chance de diástase.
Ainda assim, a avaliação de um profissional especializado é indispensável, pois somente ele pode medir corretamente a distância entre os músculos e identificar o melhor tratamento.
Afinal, o que é a diástase
A diástase dos músculos retos abdominais é o afastamento anormal da linha alba, tecido conjuntivo que liga as duas bandas do músculo reto abdominal, o famoso músculo do “tanquinho”. Essa condição desperta preocupações para muitas pessoas, principalmente gestantes e outros indivíduos que também passaram por grandes alterações de peso.
🔹 É importante salientar, que a diástase é fisiológica durante a gestação, pois o útero em crescimento exerce uma pressão significativa sobre a parede abdominal, levando ao estiramento desses músculos abdominais. Este é um processo natural que ocorre para acomodar o crescimento do feto, mas em algumas mulheres, essa separação persiste após o parto.
Após o parto, é esperado que a musculatura retorne progressivamente à posição original nos primeiros meses. No entanto, quando o tecido conjuntivo perde força ou ocorre um estiramento maior que o previsto, essa recuperação pode não ser completa, e aí surge a diástase persistente, que pode variar de leve a acentuada, podendo chegar a 10 cm ou mais em casos graves.
Os sintomas geralmente incluem uma protuberância na região do abdômen, especialmente ao realizar esforços, como ao se levantar da posição deitada, tossir ou fazer exercícios físicos. Além disso, a diástase pode estar associada a problemas de postura, dor lombar, incontinência urinária e desconforto abdominal.
Por que ela acontece?
Embora seja mais frequente nas mulheres especialmente no período gestacional e pós-parto, a diástase também pode ocorrer em homens e mulheres não gestantes, devido a condições que aumentam a pressão intra-abdominal.
Causas mais comuns (cientificamente reconhecidas):
- Gestação (principal causa)
- Estiramento natural da linha alba com afastamento dos músculos reto abdominais
- Alterações hormonais (como relaxina) que tornam os tecidos mais elásticos
- maior prevalência em gestação gemelar, bebês com mais de 4 kg, multiparidade e idade materna acima de 35 anos
- Outros fatores associados
- Perda rápida de peso
- Atividades físicas mal orientadas com excesso de pressão abdominal
- Doenças respiratórias crônicas com tosse frequente
- Obesidade
- Enfraquecimento natural do tecido conjuntivo ligado à genética
Por que a diástase merece atenção?
Além do impacto estético que muitas mulheres relatam como grande queixa, a diástase pode causar alterações funcionais importantes:
- Dor lombar (pela diminuição de estabilidade do tronco)
- Incontinência urinária de esforço
- Postura alterada
- Sensação de fraqueza no centro do corpo (“core”)
- Sobrecarga no assoalho pélvico
- Dificuldade para retornar ao exercício físico com segurança
Quando não tratada, a diástase pode perpetuar um ciclo de dor, fraqueza abdominal e impacto na qualidade de vida.
Fisioterapia: o tratamento mais indicado e baseado em evidências
O principal tratamento conservador da diástase é a fisioterapia, considerada pela literatura científica como a abordagem mais segura e eficaz na grande maioria dos casos. Primeiramente, é necessária uma avaliação completa, não só abdominal, mas perineal também
A fisioterapia atua em duas frentes principais:
Tratamento da diástase já existente
Por meio de:
- Exercícios específicos de ativação da musculatura mais profunda e responsável pela estabilização da coluna
- Treino funcional com foco em controle de pressão intra-abdominal
- Reeducação respiratória
- Estabilização lombo-pélvica
- Técnicas que favorecem o “fechamento” da linha alba
- Orientações de movimentos do dia a dia para evitar piora
Estudos mostram que protocolos adequados podem reduzir significativamente a distância entre os músculos e melhorar força, postura e funcionalidade.
Prevenção durante a gestação
Durante a gravidez, a fisioterapia tem papel essencial:
- Fortalece o abdômen de forma segura e orientada
- Reduz dor lombar, extremamente comum no período gestacional
- Prepara os músculos para suportar o crescimento uterino
- Ajuda a minimizar o grau da diástase após o parto
- Ensina posições e rotinas que protegem o períneo
A literatura demonstra que mulheres que fazem acompanhamento fisioterapêutico no pré-natal têm menores índices de diástase persistente, menos dor e recuperação mais rápida no pós-parto.
A seguir, uma lista clara, atualizada e embasada sobre tratamentos frequentemente divulgados para diástase abdominal, mas que NÃO possuem validação científica consistente. Isso não significa que sejam inúteis em qualquer contexto, mas sim que não tratam a diástase de fato, não reduzem a distância dos músculos retos ou não possuem estudos de boa qualidade que sustentem sua eficácia.
❌ Tratamentos populares para diástase que NÃO têm comprovação científica
1. Faixas, cintas e binders como método de “fechar” a diástase
Apesar de confortarem e reduzirem a sensação de instabilidade no tronco, cintas não tratam diástase.
Elas:
- não fortalecem a musculatura,
- não estimulam a linha alba,
- não reduzem o afastamento dos retos abdominais.
Podem até ser usadas temporariamente por conforto, mas não corrigem o problema.
2. Exercícios hipopressivos como solução principal
Os hipopressivos são muito divulgados como “milagrosos” para diástase.
Porém, revisões sistemáticas recentes mostram:
- evidência insuficiente de que tratem a diástase;
- benefícios possíveis na postura, consciência corporal e função respiratória, mas não na aproximação efetiva dos retos abdominais.
Podem ser usados como complemento, mas não são método de correção isolado.
3. Eletroestimulação abdominal (tipo “gominhos sem esforço”)
A promessa de tonificar a musculatura profunda com eletroestimulação não se confirma em estudos clínicos.
A eletroestimulação superficial:
- ativa principalmente a musculatura mais superficial,
- não trabalha adequadamente transverso abdominal e estabilizadores profundos, essenciais para a correção.
Ou seja, não trata diástase isoladamente.
4. Uso de pesos elevados precocemente no pós-parto
Muitas plataformas divulgam treinos intensos como forma de “fechar” diástase.
Mas aumento abrupto de carga não tem comprovação e pode até:
- ampliar a separação,
- gerar dor lombar,
- aumentar o risco de hérnias.
Treino com carga existe, mas precisa ser aplicado com progressão e avaliação profissional.
✔️ E o que realmente tem evidência científica
Os estudos mostram melhores resultados com:
- Treinamento específico do transverso abdominal
- Reeducação da pressão intra-abdominal
- Correção respiratória + ativação profunda coordenada
- Exercícios de estabilidade lombo-pélvica
- Fortalecimento progressivo com técnica adequada
- Orientação funcional para atividades do dia a dia
Conclusão
A diástase é normal, fisiológica e esperada durante a gestação — mas quando não se recupera adequadamente, pode causar desconfortos estéticos e funcionais.
Com avaliação adequada e tratamento fisioterapêutico direcionado, é possível fortalecer, recuperar e prevenir complicações, devolvendo estabilidade, confiança e qualidade de vida.
Se você suspeita de diástase, o primeiro passo é simples: buscar avaliação especializada.
Cuidar do seu abdômen é cuidar do seu bem-estar, da sua saúde e da força do seu corpo como um todo.